Imagética feminina e amor de ouvido no Cancioneiro Geral: o caso de Sá de Miranda

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.14198/rcim.27447

Palabras clave:

Cancioneiro Geral, amor de ouvido (amor de oídas), Sá de Miranda, sereia, serpente, esparsa, bestiário, Bíblia, Gregório Afonso, Jorge Manrique

Resumen

Embora não tenha sido até agora objeto de atenção e a sua presença seja mesmo excecional, o chamado amor de ouvido (de oídas, na tradição crítica castelhana) aparece no Cancioneiro Geral, tal como acontece nos cancioneiros manuscritos galego-portugueses, em que certos trovadores (por exemplo, Pero Viviaez), dirigem as suas declarações sentimentais a senhoras não vistas, mas das quais ouviram falar. Sob uma perspetiva histórica, comparatista e intertextual, analisamos a procedência e a projeção do topos nos versos de Sá de Miranda recolhidos por Garcia de Resende. Na verdade, na coletânea lusa, onde também sobressai uma composição de Gregório Afonso à fama como causa de idealização da dama (ainda) não contemplada com os olhos, este adquire uma especial importância sobretudo por dois motivos. Um deles é a sua ligação com outro núcleo temático à volta do qual gira toda a produção do poeta do Neiva: o desdobramento da personalidade que amiúde provoca a dama ingrata e traidora, causando grande aflição no sujeito lírico e tornando-o mesmo inimigo de si próprio, sobretudo nos trilhos de Jorge Manrique. O outro é a sua inserção em duas esparsas em que, de modo análogo às cantigas de amor trovadorescas, se sublinha a falta de correspondência entre o ouvir que causou a paixão e o ver, mas num Quadro imagético novo, o qual será retomado e amplificado com mais elementos plenamente renascentistas noutra composição mirandina alheia ao Cancioneiro Geral. Nele destacam-se alusões tanto a traços congénitos da fisiologia humana (a surdo-mudez), quanto a figuras que remetem para o bestiário e a Bíblia (a sereia e a serpente), sobre cujos valores semânticos e simbólicos refletimos à luz do universo mítico, social e literário da época.

Financiación

Este artigo está vinculado ao Projeto de Investigação «Voces, espacios, representaciones femeninas en la lírica gallego-portuguesa» (PID2019-108910GB-C22), financiado pelo Ministerio de Ciencia, Innovación e Universidades.

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Publicado

08-01-2025

Cómo citar

Morán Cabanas, M. I. (2025) «Imagética feminina e amor de ouvido no Cancioneiro Geral: o caso de Sá de Miranda», Revista de Cancioneros Impresos y Manuscritos, (14), pp. 167–191. doi: 10.14198/rcim.27447.

Número

Sección

Monografía 1